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Mostrando postagens com o rótulo ensaio

Entre a liberdade e a maternidade : a responsabilidade de ser mãe

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 Por Flávia Santosa Foto:Pexels A maternidade parece ter perdido lugar no coração de muitas mulheres. Em nome de um empoderamento distorcido, promovido pelas mídias e pelo mercado, a vaidade e a busca pela imagem tomaram o espaço da sensibilidade e do cuidado.                                                          "A liberdade se transforma em instrumento de dominação                               quando se reduz à escolha entre produtos." ( Herbert Marcuse ) O resultado é uma geração de meninas superexpostas, mães despreparadas e crianças privadas do afeto materno genuíno. O que deveria ser força e sabedoria se tornou desequilíbrio. Não é preciso escolher entre ser mulher e ser mãe. O verdadeiro desafio está em conciliar essas dimensões — sem sacrificar a beleza ...

O “crime” de ser reservada.

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  Foto de Ravi Sharma: https://www.pexels.com/pt-br Mais um dia aqui na escola, e o mais interessante disto tudo é que a minha postura e o meu comportamento vivem constantemente sendo avaliados. Eu, que deveria estar avaliando, acabo sendo avaliada — não pelas minhas ações, mas pela minha escolha: ser reservada. Descobri, com surpresa, que essa postura pode soar como afronta, quase como um crime hediondo. Afinal, quem ousa não se oferecer ao grupo? Quem ousa não se exibir, não se misturar, não se justificar? O silêncio, para muitos, é vazio. Para mim, é espaço. Na verdade, são essas pessoas que acabam me isolando. Desde o primeiro dia que cheguei aqui, percebi olhares conflituosos, desconfiados, críticos — sem que eu tivesse sequer aberto a boca. Trago comigo uma sensibilidade que não sei desligar. Percebo os pensamentos antes que virem palavras, sinto as intenções disfarçadas atrás de gestos banais. E, de algum modo, sei que transmito algo que não controlo: dizem que o meu sorriso...

A ilusão da perfeição

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Reflexão sobre a ilusão da perfeição e a força das diferenças. Foto de Anna Shvets: https://www.pexels.com/pt-br A verdadeira perfeição não está no ideal absoluto, mas na soma das imperfeições que nos tornam humanos. Na minha cabeça, a ideia de perfeição é uma ficção. Se eu buscar a resposta dentro das doutrinas religiosas, acabarei me machucando, pois elas mais confundem do que esclarecem. Cada uma segue seu próprio padrão inflexível. De certo modo, precisa ser assim; caso contrário, não seria uma doutrina. No campo filosófico, a perfeição também surge com conceitos diferenciados, de acordo com o pensamento de cada filósofo, cada qual sustentado por suas crenças particulares. Há, por exemplo, Descartes, que enxergava — ainda inserido em uma visão religiosa — a perfeição como um atributo divino a ser seguido, buscado ou alcançado pelo homem. Este, por sua vez, sendo um ser imperfeito. Em contrapartida, temos Nietzsche. Para ele, essa ideia fixa de perfeição castra a vida, que é feita d...

53 anos: a arte de se reinventar

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  Viver é uma obra inacabada. Aos 53 anos, percebo que cada escolha, cada pausa e cada renúncia foram tijolos colocados na construção de quem sou hoje. Sou reservada, mas não ausente. Leonina de essência — vaidosa, leal, intensa — aprendi que luz atrai olhares, mas também sombras. Amiga, confidente e coerente, mas seletiva com quem permito entrar no meu círculo. Mãe, esposa, amante: múltiplas faces de uma mesma mulher. Me reconheço nas contradições: ciumenta e possessiva, mas capaz de renunciar por amor aos meus pais, filhos e marido. Interrompi caminhos — Ciências Biológicas, Filosofia — para cumprir papéis que o tempo me entregou. Mas em cada desvio havia aprendizado, e em cada espera, sementes plantadas. Sou eclética: nerd de filmes, séries, animes e quadrinhos. Estudante de Letras, estagiária na educação inclusiva, educadora por vocação, blogueira e escritora por paixão. Tenho um pensamento filosófico que me acompanha como bússola. Hoje, mais do que nunca, busco minha realizaçã...

A Importância do Não Saber

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  Sócrates/Foto: Fszalai/Pixabay Estamos vivendo  em uma época que valoriza respostas rápidas, certezas absolutas e opiniões firmes sobre tudo. A sociedade contemporânea, impulsionada pela velocidade da informação e pelo culto ao conhecimento técnico, muitas vezes nos faz acreditar que “ não saber ” é sinônimo de fraqueza, ignorância ou incompetência. Mas será que isso é verdade? E se o “ não saber ” for, na verdade, uma das maiores potências do ser humano? A ideia de que sempre precisamos ter uma resposta pronta nos afasta da escuta, da curiosidade e da humildade. No entanto, a história da humanidade mostra que os maiores avanços — na ciência, na filosofia, na arte e até na espiritualidade — nasceram, muitas vezes, da dúvida, da pergunta não respondida, da coragem de dizer “eu ainda não sei”. O não saber como ponto de partida Saber que não se sabe é o primeiro passo para o aprendizado verdadeiro. Como nos ensinou Sócrates,  “só sei que nada sei”  — frase que atraves...

O Valor Invisível

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Foto de Valeria Boltneva: https://www.pexels.com/pt-br /foto/maos-flores-crianca-filho-12982842/ Quando o presente é o gesto, não a coisa Por Flávia Santosa Há perguntas que não nascem para serem respondidas, mas para abrirem portas dentro da gente. Hoje, me encontrei pensando no que, de fato, uma mulher valoriza. Talvez não apenas a mulher, mas o ser humano. O que é, afinal, ser lembrada, ser valorizada, ser vista? É uma questão que atravessa o feminino, sim — mas que transborda para qualquer existência que deseja ser reconhecida no olhar do outro. Não vou ser hipócrita em negar: é verdade, a mulher gosta de presente. Mas não é sobre o objeto. Não é sobre o preço, nem sobre o embrulho bonito. O presente não é, em si, a coisa. É o gesto. Quando alguém nos presenteia, não importa o valor monetário, mas o tempo que aquela pessoa investiu em pensar em nós. A lembrança que se materializa, seja num objeto simples, num bilhete escrito à mão, numa flor colhida na rua, num olhar que pousa sobr...

O Tempo e a Sabedoria das Plantas: um Ensaio sobre Agir, Não Agir e Confiar

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                                                           Foto do meu jardim: Hibisco  O Tempo e a Sabedoria das Plantas: um Ensaio sobre Agir, Não Agir e Confiar Por Flávia Santosa  Quando criança, eu tinha o hábito silencioso de folhear algumas páginas da Bíblia, detendo-me especialmente em determinados evangelhos do Velho Testamento. Meus preferidos eram os Salmos, os Provérbios e, sobretudo, o Eclesiastes. Em um de seus versículos, deparei-me com a afirmação: “há tempo para tudo debaixo dos céus”. Essa frase, como um conto sagrado, jamais saiu da minha cabeça. Ela me acompanhou ao longo dos anos, ora como um consolo, ora como um mistério. Entretanto, não possuía, então, plena compreensão do seu alcance. A ansiedade do mundo, a pressa das coisas, o desejo de imediatismo não permitiam que eu percebesse, na prática, o que aquel...

Uma Jornada Além de Zaratustra: o equilíbrio entre o bem e o mal

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A mente humana é um labirinto fascinante e demasiadamente complexo, especialmente quando se trata de separar a verdadeira essência do ego. Existe uma luta constante para compreender qual dessas forças nos guia e, mais ainda, se a razão seria a resposta para todas as nossas perguntas. Contudo, o egocentrismo parece ser um dos grandes motores das nossas ações. Ele nos guia, muitas vezes de forma inconsciente, impulsionando nossas escolhas, decisões e até nossas interpretações sobre o que nos faz bem. É no entendimento da vida e da morte que reside a profundidade da nossa busca. Servir aos outros não é, necessariamente, o objetivo final, embora tenha seu valor. No fundo, as pessoas sempre buscam aquilo que as faz sentir bem, mas o que é  "bem"  é relativo e subjetivo. Para alguns, aquilo que é bom  para si pode ser prejudicial para outros. O ato de servir, por vezes, beneficia uns em detrimento de outros, dependendo de como se interpreta o que é justo e válido. O   eq...

Uma leitura pessoal sobre o "Discurso do Método" de René Descartes

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                                  René Descartes O "Discurso do método", é uma das mais importantes obras para filosofia moderna, nela Descartes faz uma abordagem para a dúvida metódica e a busca por conhecimento. Por essa razão, escolhi como minha primeira reflexão. A impressão que tenho do livro é, de certa forma, espelhada: ele reflete algo em mim, e por isso me identifico com muitos de seus pontos. René Descartes me causa uma boa impressão justamente porque sua proposta vai ao encontro da forma como eu também enxergo o mundo. Compartilho com ele o hábito de observar as pessoas, seus gestos, a entonação das palavras, os silêncios entre uma frase e outra. Observar é, para mim, uma forma de pensar. Gosto de perceber a intencionalidade por trás de cada fala. O corpo tem uma linguagem própria, e muitas vezes acaba revelando o que a mente tenta esconder. Percebo que nem sempre as pessoas dizem o que realm...