A ilusão da perfeição
A verdadeira perfeição não está no ideal absoluto, mas na soma das imperfeições que nos tornam humanos.
Na minha cabeça, a ideia de perfeição é uma ficção. Se eu buscar a resposta dentro das doutrinas religiosas, acabarei me machucando, pois elas mais confundem do que esclarecem. Cada uma segue seu próprio padrão inflexível. De certo modo, precisa ser assim; caso contrário, não seria uma doutrina.
No campo filosófico, a perfeição também surge com conceitos diferenciados, de acordo com o pensamento de cada filósofo, cada qual sustentado por suas crenças particulares. Há, por exemplo, Descartes, que enxergava — ainda inserido em uma visão religiosa — a perfeição como um atributo divino a ser seguido, buscado ou alcançado pelo homem. Este, por sua vez, sendo um ser imperfeito.
Em contrapartida, temos Nietzsche. Para ele, essa ideia fixa de perfeição castra a vida, que é feita de diversidades. E ele tem razão. A vida é composta por muitas nuances e, justamente por isso, a noção de perfeição diverge entre as várias doutrinas religiosas existentes.
É interessante como, na nossa sociedade contemporânea, as pessoas ainda carregam a ideia equivocada de perfeição — sobretudo a perfeição física. Nessa busca incessante, muitas acabam mutilando-se, autoflagelando-se em nome de um ideal que não é real, mas ilusório. Afinal, cada pessoa tem gostos particulares: o que é belo para uns, não é necessariamente para outros.
A noção de perfeição física, da beleza ideal, também diverge entre diferentes países e culturas. As cores, os cheiros, os aromas, tudo o que é palpável, aquilo que podemos tocar e até mesmo o que podemos imaginar — as músicas, as diferentes harmonias — tudo revela pluralidade. É justamente a diferença que nos torna humanos. E, nesse sentido, a diferença se completa.
É aí que eu enxergo a perfeição: na diversidade. Eu vejo a perfeição nesse colorido múltiplo, nesse jogo de contrastes que compõe a vida. Essa, para mim, é a perfeição.
As ideias rígidas, fechadas em si mesmas, me parecem vazias. Pois tudo precisa ter um sentido, um fio de lógica que se sustente. A vida, afinal, é feita de engrenagens: peças de tamanhos e formas distintos que, ao se encaixarem, formam um quadro maior e mais amplo. A perfeição, então, não está no uniforme e no idêntico, mas na complementaridade que constrói o todo. A justamente porque carrega em si todas as suas nuances e diferenças.
Acredito que Nietzsche tenha vislumbrado algo disso. Embora visse o caos na humanidade e denunciasse a hipocrisia, percebia que o engessamento em ideais fixos mutila a vida. A perfeição, quando reduzida a uma única forma, causa dano — sempre haverá alguém, ou algo, que será sacrificado em nome dela.
Por isso, as doutrinas, tradições e culturas, em todos os tempos, ao definirem a perfeição de forma estreita e absoluta, acabam errando. Pois essa suposta perfeição diminui a existência, reduzindo sua amplitude e apagando seu colorido.
Para mim, a perfeição é justamente o contrário: é aceitar a vida com suas múltiplas faces, suas imperfeições aparentes, suas diferenças que se entrelaçam e se completam.
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