Que é escrita? Conceitos, origens e caminhos didáticos para refletir em sala de aula


Neste post do blog Fragmentos e Contextos, inicio uma nova categoria voltada à abordagem didática de conceitos fundamentais da linguagem e da formação humana. Como professora em formação, proponho um exercício de olhar para a escrita não apenas como prática subjetiva e transformadora (o que ela também é), mas como um fenômeno histórico, cultural e pedagógico que atravessa os tempos.


O que é escrita?


A escrita é um sistema de representação gráfica da linguagem. Trata-se de uma invenção humana que permite registrar ideias, emoções, acontecimentos e saberes por meio de símbolos convencionados. Ao contrário da fala, que é natural e aprendida espontaneamente na convivência, a escrita é uma prática cultural que precisa ser ensinada e aprendida formalmente.


Breve histórico da escrita humana


A história da escrita começa com a necessidade de registrar transações econômicas e eventos importantes. Os primeiros sistemas conhecidos surgiram na Mesopotâmia (escrita cuneiforme) e no Egito (hieróglifos), por volta de 3.500 a.C. Com o tempo, surgiram diferentes sistemas de escrita: pictográficos, ideográficos, silábicos e alfabéticos.

O alfabeto fenício, por exemplo, influenciou diretamente os alfabetos grego e latino, que usamos até hoje. A escrita, inicialmente restrita a elites religiosas e políticas, aos poucos se expandiu com o surgimento do papel, da imprensa de Gutenberg (século XV) e da escolarização em massa.

Hoje, vivemos uma era marcada pela escrita digital, com novos desafios e linguagens — abreviações, emojis, hipertextos — que exigem uma nova forma de letramento.


Por que ensinar a escrita?


Ensinar a escrita é ensinar a organizar o pensamento, comunicar-se com clareza, acessar o conhecimento acumulado e produzir sentido no mundo. Na sala de aula, trabalhar com a escrita envolve mais do que ensinar ortografia e gramática: trata-se de formar sujeitos críticos, capazes de expressar-se com autonomia e criatividade.

A BNCC (Base Nacional Comum Curricular) orienta que o ensino da escrita deve considerar os gêneros textuais, os contextos de produção e os objetivos comunicativos. Assim, é importante que os estudantes aprendam a escrever diferentes tipos de texto: narrativos, descritivos, argumentativos, injuntivos, poéticos, entre outros.


Caminhos didáticos possíveis


Leitura de textos variados como ponto de partida;

Escrita como processo: planejamento, rascunho, revisão e reescrita;

Práticas significativas: produção de textos que dialoguem com a vida real;

Escrita compartilhada, coletiva e individual;

Uso da escrita como ferramenta de reflexão sobre si e o mundo.


A escrita como ponte entre saber e ser


Mesmo em sua dimensão didática, a escrita continua sendo um caminho de construção de identidade. Ao escrever, o estudante se vê, se lê, se reconhece. A escrita dá corpo ao pensamento e forma à subjetividade. Por isso, ensinar a escrever é também contribuir para o desenvolvimento integral do sujeito.


Conclusão


A escrita, em seu percurso histórico e em sua prática pedagógica, é um patrimônio da humanidade que atravessa culturas, tempos e sujeitos. Refletir sobre ela, como estamos fazendo neste post, é um exercício importante para quem ensina, aprende e escreve com sentido.

No Fragmentos e Contextos, essa reflexão ganha corpo como parte do meu caminho de formação docente, onde o conhecimento se entrelaça com o desejo de transformar realidades a partir da palavra escrita.


Referências e leituras recomendadas:


ANTUNES, Irandé. Muito além da gramática: por um letramento linguístico. São Paulo: Parábola Editorial, 2003.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. “A história da escrita e da leitura: aspectos teóricos e pedagógicos”. In: Revista Educação & Realidade, UFRGS, v. 24, n. 2, 1999.

SOARES, Magda. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Ministério da Educação, 2017. Disponível em:  https://basenacionalcomum.mec.gov.br

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Lexikon, 2001.

FERREIRO, Emília; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artmed, 1999.


Me conte uma experiência com a escrita que te marcou!

Deixe o seu comentário!

Comentários

Postagens mais visitadas

53 anos: a arte de se reinventar

A Luz de Clarice

A Importância do Não Saber