"A República " de Platão
Antes de iniciar esse estudo sobre o livro " A República", acredito ser importante trazer um conceito básico sobre o que é justiça e o que significa ser justo.
Então, o que é justiça?
A justiça é um conceito central em sociedades humanas, relacionado à ideia de equidade, moralidade e cumprimento das leis. Ela busca garantir que todos sejam tratados de maneira justa, com direitos e deveres proporcionais às suas ações e necessidades. Na filosofia, a justiça pode ser vista como uma virtude que promove o bem comum, respeitando a dignidade e os direitos de cada indivíduo.
Ser justo, por outro lado, significa agir de maneira imparcial, honesta e ética, considerando as circunstâncias e o impacto de suas decisões nas outras pessoas. Implica em equilibrar interesses pessoais com o respeito aos direitos alheios, buscando harmonia e igualdade.
Quem foi Platão
Platão(427a.C. - 347a.C.), um dos maiores filósofos da história, foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles. Ele fundou a academia em Atenas, considerada a primeira instituição de ensino superior do Ocidente. Sua obra abrange temas como ética, política, epistemologia e metafísica. A República é uma de suas obras mais conhecidas, onde explora questões fundamentais da sociedade e da justiça.
O propósito e a construção da obra
Platão escreveu " A República" como uma série de diálogos, onde Sócrates é a figura central. O contexto era a busca por uma sociedade ideal, guiada por valores como virtude e justiça. A obra surge como um reflexo do cenário político da Grécia Antiga, marcado por instabilidade e corrupção. Platão utiliza essa obra para criticar o modelo democrático ateniense e propor um estado baseado no conhecimento e na razão.
Estrutura de A República
O livro é dividido em dez partes, ou “Livros”, cada um abordando questões específicas, que se conectam ao tema principal: a justiça. Eis um resumo breve:
1. Livro I: Introdução ao conceito de justiça e debate inicial sobre o que significa ser justo.
2. Livro II: Discussão sobre a origem das cidades e o surgimento da justiça como virtude coletiva.
3.Livro III: Educação e papel dos “Guardiões” da cidade .
4. Livro IV: Definição da justiça no contexto da cidade e no indivíduo.
5.Livro V: Igualdade entre homens e mulheres na educação e papel dos filósofos no governo.
6.Livro VI: A teoria do filósofo-rei como governante ideal.
7. Livro VII: A alegoria da caverna, representando a ignorância e o papel do conhecimento.
8. Livro VIII: Tipos de governo e suas degenerações.
9. Livro IX: A tirania como o pior tipo de governo.
10.Livro X: Arte, imortalidade da alma e conclusões sobre justiça.
A relação entre justiça e os outros temas.
Platão foi um jovem aristocrata ateniense que se tornou discípulo de Sócrates. Ele foi profundamente influenciado pelas ideias e métodos de Sócrates e, após a morte de seu mestre, ele viajou pelo mediterrâneo, estudando e ensinando filosofia.
A autenticidade dos diálogos
Embora Platão não tenha participado diretamente dos diálogos, é provável que ele tenha baseado suas obras nos relatos de testemunhas oculares e em suas próprias lembranças das conversas de Sócrates. Além disso, Platão também pode ter usado sua própria imaginação e criatividade para recriar os diálogos de forma mais literária e filosófica.
A importância da forma dialógica
A forma dialógica que Platão usou em suas obras foi uma escolha deliberada para transmitir as ideias e métodos de Sócrates de forma mais dinâmica e interativa, e também permitiu que ele explorasse diferentes perspectivas e pontos de vista de forma eficaz. É verdade que há debates entre os estudiosos sobre a natureza da obra “A República" de Platão e a historicidade de Sócrates, porém, isso não inviabiliza nem diminuiu o valor filosófico desta rica obra.
A questão de historicidade de Sócrates
Sócrates é uma figura histórica que viveu em Atenas no século V a.C. Embora não tenha deixado escritos próprios, sua vida e ensinamentos são conhecidos através das obras de seus discípulos, incluindo Platão e Xenofonte.
A obra “A República” como ficção filosófica
Alguns estudiosos argumentam que " A República " é uma obra de ficção filosófica, na qual Platão usou a figura de Sócrates como um personagem para expressar suas próprias ideias e teorias. Essa visão sustenta que a obra não é um relato histórico preciso das conversas de Sócrates, mas sim uma criação literária que visa explorar questões filosóficas.
A visão tradicional
Outros estudiosos defendem a visão tradicional de que “A República” é uma obra que combina elementos de ambos os pontos de vista. Platão provavelmente usou relatos reais das conversas de Sócrates como base para sua obra mas também adicionou seus próprios comentários, reflexões e criatividade literária para criar uma obra que é ao mesmo tempo histórica e filosófica.
Ao ler o diálogo da República de Platão, não podemos deixar de refletir sobre a justiça e sua relação com a alma. Para Platão, a justiça é o eixo central que atravessa todas as outras aflições da alma.
A justiça como virtude
Platão defende que a justiça é uma virtude que se aplica a todas as coisas, e não apenas as relações humanas. Ele argumenta que a justiça é uma forma de retidão que é independente das relações humanas.
A relação entre a justiça e alma
No diálogo, Platão explora a relação entre justiça e a alma. Ele argumenta que a justiça é uma qualidade da alma que se manifesta em nossas ações e decisões. Além disso, Platão defende que a justiça é essencial para a saúde(física e mental) e a felicidade da alma.
A questão da mortalidade e do além
Um dos aspectos mais fascinantes do diálogo é a discussão sobre a mortalidade e o além. Platão defende que a alma é imortal e que existe um mundo extrafísico além da nossa realidade cotidiana. Ele argumenta que a justiça é essencial para a preparação da alma para a vida após a morte.
Concluindo, "A República" continua sendo uma obra atemporal, pois levanta questões sobre como construir uma sociedade ideal e como encontrar o equilíbrio entre o poder, moralidade e conhecimento. Ao explorar a natureza da justiça e sua importância para a saúde e a felicidade da alma, Platão nos convida a refletir sobre a nossa própria vida e a buscar a justiça em nossas ações e decisões, assim como, nosso papel na construção de um mundo mais equilibrado.
Referências:
PLATÃO. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2006. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/pp000017.pdf. Acesso em: 20 abr. 2025.
Mundo educação: https://mundoeducacao.uol.com.br/filosofia/platao.htm
Dicionário Priberam.
Espero que essa reflexão possa trazer mais clareza no verdadeiro sentido de justiça.
Continue comigo, deixe seus comentários!
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