Entre a liberdade e a maternidade : a responsabilidade de ser mãe

 Por Flávia Santosa

Foto:Pexels


A maternidade parece ter perdido lugar no coração de muitas mulheres. Em nome de um empoderamento distorcido, promovido pelas mídias e pelo mercado, a vaidade e a busca pela imagem tomaram o espaço da sensibilidade e do cuidado.


                           

                             "A liberdade se transforma em instrumento de dominação

                              quando se reduz à escolha entre produtos." (Herbert Marcuse)


O resultado é uma geração de meninas superexpostas, mães despreparadas e crianças privadas do afeto materno genuíno. O que deveria ser força e sabedoria se tornou desequilíbrio.

Não é preciso escolher entre ser mulher e ser mãe. O verdadeiro desafio está em conciliar essas dimensões — sem sacrificar a beleza maior que a natureza nos confiou: a maternidade

Como mãe que sou, precisei fazer algumas renúncias ao longo do tempo. Tenho observado o comportamento de outras mães e, não somente em relação a mim mesma, mas em tantas mulheres ao meu redor, percebo que a ideia da maternidade inata — aquele sentimento de proteção genuíno e afetuoso — está se perdendo.

Um número cada vez maior de mulheres tem supervalorizado o chamado “empoderamento feminino”, mas de forma distorcida, em detrimento da maternidade genuína. Esse comportamento, impulsionado por ideologias de mercado, chega até nós de modo fragmentado e equivocado, causando mudanças dramáticas na vida de muitas meninas e jovens mulheres.

Influenciadoras, cantoras, atrizes e modelos acabam servindo como espelhos de conduta, mas, muitas vezes, oferecem exemplos que geram consequências profundas: meninas supersexualizadas, mães muito jovens que, sem apoio e sem preparo, acabam deixando seus filhos em abrigos, creches ou sob cuidados terceiros.


                             

                             "Na modernidade líquida, nada é feito para durar." (Zygmunt Bauman)


E eu me pergunto: que humanidade estaremos formando no futuro, se a mulher não reconhece o seu verdadeiro papel na natureza?

Para mim, a grande questão é o desequilíbrio entre ser mãe e ser mulher.

As informações transmitidas pelas redes sociais e pelas grandes mídias têm colaborado insistentemente para essas transformações equivocadas, sugerindo que é preciso escolher entre a vaidade e a maternidade — quando, na verdade, essa escolha não é necessária.


                              

                              "O mal pode ser banal, mas suas consequências jamais o são."

 (Hannah Arendt)


Precisamos de vozes que alertem as mulheres: não é preciso abrir mão de ser quem somos para viver a maternidade. O que se faz necessário é aprender a conciliar, com sabedoria, os matizes que só a mulher é capaz de integrar. Ser mãe e ser mulher não são caminhos opostos, mas dimensões que podem se fortalecer mutuamente, desde que não deixemos a essência da maternidade ser sufocada por ilusões passageiras.


📖 Nota ao leitor:

Para quem deseja refletir mais profundamente sobre os dilemas entre maternidade, vaidade e os desafios da mulher contemporânea, deixo algumas leituras que ampliam este debate: O Conflito: A Mulher e a Mãe (Élisabeth Badinter), Bebês e suas mães (Donald Winnicott), A Sociedade do Cansaço (Byung-Chul Han), A Invenção da Mulher Moderna (Miriam Goldenberg) e Amor Líquido (Zygmunt Bauman). Cada uma dessas obras traz perspectivas distintas — da psicologia à sociologia, da filosofia à cultura brasileira — para que cada leitor possa formar suas próprias conclusões.


Finalizo essa reflexão com uma citação de Hannah Arendt do Livro "A Condição Humana".

"O perigo é que uma civilização altamente desenvolvida produza seres humanos que não sejam mais capazes de pensar".


Para mim, faz todo sentido. E para você?

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