Contrações na Língua Portuguesa
A língua portuguesa é rica, viva e, muitas vezes, desafiadora. Entre suas peculiaridades, as contrações são um dos fenômenos mais interessantes e importantes para quem deseja escrever e falar corretamente. Embora pequenas, elas têm grande impacto na fluidez da comunicação e na naturalidade da linguagem.
Mas, afinal, o que são contrações?
O que são contrações
Chamamos de contração o encontro de duas palavras que se unem em uma só, com a supressão de algum som ou letra. Essa junção ocorre naturalmente na fala e foi incorporada à escrita, principalmente para facilitar a pronúncia e evitar repetições sonoras desagradáveis.
Por exemplo:
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de + o = do
-
em + a = na
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por + o = pelo
Perceba que, ao unir as palavras, uma delas perde parte de sua estrutura, mas o significado do conjunto é mantido — ou até reforçado.
As contrações são muito comuns entre preposições e artigos, pronomes pessoais, demonstrativos e advérbios.
Tipos mais comuns de contração
1. Preposição + Artigo
É o tipo mais frequente na língua portuguesa.
Exemplos:
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de + o = do → O livro do aluno está na mesa.
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de + a = da → A janela da sala está aberta.
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em + o = no → Ele está no carro.
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em + a = na → As flores estão na jarra.
2. Preposição + Pronome
Essas contrações são muito utilizadas em contextos cotidianos.
Exemplos:
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de + ele = dele → O caderno dele sumiu.
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em + ela = nela → A menina confia nela.
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para + ele = pra ele (forma coloquial) → Entregue pra ele amanhã.
3. Preposição + Demonstrativo
Exemplos:
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de + este = deste → Gosto deste livro.
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em + aquele = naquele → Naquele dia chovia muito.
4. Preposição + Advérbio
Exemplos:
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de + aqui = daqui → Daqui até a praia é perto.
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em + ali = nali (forma antiga, hoje em desuso).
5. Contrações com o pronome “o” e “a”
Essas contrações são comuns em textos mais informais e também na fala.
Exemplos:
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de + o = do
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por + o = pelo
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a + o = ao
6. O uso de “em um” e “em uma”
Um caso que gera dúvida frequente é o uso de “em um” e “em uma”.
Na fala, é muito comum ouvirmos a contração “num” (em + um) e “numa” (em + uma), e ambas estão gramaticalmente corretas, mas com diferenças de nível de formalidade:
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“Em um” / “Em uma” → forma formal, adequada para textos escritos, acadêmicos e oficiais.
Exemplo: “Ele entrou em uma sala escura.”
Exemplo: “Pensou em um projeto diferente.” -
“Num” / “Numa” → forma contraída e coloquial, comum na fala e em textos informais.
Exemplo: “Ele entrou numa sala escura.” Exemplo: “Pensou num projeto diferente.”
Portanto, ambas as formas estão corretas, mas a escolha deve considerar o contexto de comunicação. Em textos literários, o uso de “num” e “numa” pode até ser intencional, para refletir a oralidade de um personagem. Já em textos formais, o ideal é manter “em um” e “em uma”.
Veja algumas das principais contrações com seus exemplos:
Preposição + Palavra Contração Exemplo a + o ao Vou ao médico. a + a à Fui à escola. a + os aos Entreguei aos alunos. a + as às Cheguei às dez horas. de + o do Saiu do trabalho. de + a da Voltei da padaria. de + um dum Ele veio dum lugar distante. de + uma duma Falou duma situação complicada. em + o no Está no carro. em + a na Vive na cidade. em + um num Pensei num problema difícil. em + uma numa Falou numa reunião importante. por + o pelo Lutou pelo que acredita. por + a pela Brigou pela verdade. por + os pelos Caminhou pelos campos. por + as pelas Lutaram pelas causas justas.
| Preposição + Palavra | Contração | Exemplo |
|---|---|---|
| a + o | ao | Vou ao médico. |
| a + a | à | Fui à escola. |
| a + os | aos | Entreguei aos alunos. |
| a + as | às | Cheguei às dez horas. |
| de + o | do | Saiu do trabalho. |
| de + a | da | Voltei da padaria. |
| de + um | dum | Ele veio dum lugar distante. |
| de + uma | duma | Falou duma situação complicada. |
| em + o | no | Está no carro. |
| em + a | na | Vive na cidade. |
| em + um | num | Pensei num problema difícil. |
| em + uma | numa | Falou numa reunião importante. |
| por + o | pelo | Lutou pelo que acredita. |
| por + a | pela | Brigou pela verdade. |
| por + os | pelos | Caminhou pelos campos. |
| por + as | pelas | Lutaram pelas causas justas. |
Contração, crase e combinação: qual a diferença?
Esses três fenômenos costumam causar confusão, mas são distintos:
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Contração: há supressão de som ou letra (de + o = do).
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Combinação: as palavras se unem sem supressão (a + o = ao).
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Crase: é a fusão do som da preposição a com o artigo a, marcada pelo acento grave (
à).
Vou à escola. → (a + a = à)
Vou ao cinema. → (a + o = ao, combinação, sem acento)
Por que é importante dominar as contrações
Dominar o uso correto das contrações é fundamental para:
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Evitar erros gramaticais — como “de o” em vez de “do”.
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Tornar o texto mais fluido e natural.
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Compreender melhor a leitura. Muitas vezes, o significado de uma frase depende do uso correto da contração.
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Adequar-se à norma culta, especialmente em contextos acadêmicos e profissionais.
Além disso, compreender as contrações ajuda o estudante a perceber as nuances entre a língua falada e a escrita, o que é essencial para quem deseja ensinar português ou escrever de forma clara e expressiva.
Dicas úteis para aprender e não errar
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Leia em voz alta. Ao ler, você perceberá naturalmente onde a junção das palavras é necessária.
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Treine reescrevendo frases. Transforme sentenças sem contrações em versões contraídas.
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Observe textos formais. Livros, jornais e artigos acadêmicos são bons exemplos de como usar contrações corretamente.
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Evite exageros. Em contextos formais, prefira as contrações aceitas pela norma culta (do, na, pelo), e evite formas populares (pra, pro, num).
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Use a gramática como aliada. Consulte obras confiáveis, como Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Bechara, ou Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, para aprofundar o estudo. Identificação e Formação
Fontes e leituras recomendadas
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BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2020.
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NEVES, Maria Helena de Moura. Gramática de Usos do Português. São Paulo: UNESP, 2011.
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CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Gramática Reflexiva: Texto, Semântica e Interação. São Paulo: Atual, 2017.
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BAGNO, Marcos. Nada na Língua é por Acaso. São Paulo: Parábola Editorial, 2007.
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PORTAL Só Português – www.soportugues.com.br
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PORTAL Brasil Escola – www.brasilescola.uol.com.br

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