Linguagem e Comunicação: Uma Viagem Pela História e Suas Dimensões


 

Foto de Nunun Dy:Pexells

A linguagem é uma das conquistas mais fascinantes da humanidade. Por meio dela, expressamos sentimentos, transmitimos conhecimentos, construímos culturas e transformamos o mundo ao nosso redor. Ela não é apenas uma ferramenta de comunicação; é, também, uma extensão do pensamento, da memória e da identidade humana. Entender a linguagem e suas múltiplas formas é compreender o próprio ser humano em sua complexidade.

“A linguagem é a morada do ser.”
Martin Heidegger (1959)

Essa reflexão do filósofo alemão nos lembra que a linguagem não apenas comunica; ela constitui nosso modo de existir e de pensar. Cada gesto, cada palavra, cada expressão artística é parte de uma teia que conecta indivíduos, gerações e culturas.


Historicidade da Linguagem e da Comunicação

A comunicação humana não começou com a fala articulada. Antes disso, nossos ancestrais já se comunicavam por meio de gestos, expressões faciais e sons, estabelecendo formas simbólicas de interação. As pinturas rupestres, como as encontradas na Caverna de Lascaux, na França, com cerca de 17.000 anos, são exemplos desse esforço inicial de registrar experiências e crenças.

O surgimento da linguagem verbal foi um marco decisivo na evolução social. Ela possibilitou a transmissão oral de conhecimentos, histórias e tradições, permitindo a construção de comunidades complexas. Com a invenção da escrita, cerca de 3.500 a.C. na Mesopotâmia, e quase simultaneamente no Egito com os hieróglifos, a linguagem passou a ser fixada, tornando possível a memória coletiva, a administração das sociedades e o desenvolvimento da ciência e da filosofia.

A comunicação evoluiu com as tecnologias. A imprensa de Gutenberg, o rádio, o cinema, a televisão e, mais recentemente, a internet, transformaram radicalmente o modo como nos comunicamos. Hoje, vivemos na chamada era da comunicação digital, onde textos, imagens, sons e vídeos coexistem, oferecendo múltiplas formas de expressão e interação.


Conceitos Fundamentais

Para compreender a comunicação em sua totalidade, é importante distinguir alguns conceitos-chave:

  • Linguagem: sistema simbólico usado para representar o mundo, transmitir ideias e construir significados. Segundo Ferdinand de Saussure (1916), “a linguagem é um sistema de signos em que cada elemento só tem valor em relação ao outro”.

  • Língua: manifestação concreta da linguagem dentro de uma comunidade, como o português, o inglês ou o tupi.

  • Fala: uso individual da língua em situações específicas, revelando singularidade e criatividade.

  • Comunicação: processo de troca de informações entre emissor e receptor, utilizando códigos e canais apropriados.

  • Código: conjunto de sinais compartilhados que permitem a compreensão, como a língua, a música ou a pintura.


Dimensões da Linguagem e da Comunicação

A linguagem não é unidimensional. Ela se manifesta em diferentes dimensões que revelam aspectos cognitivos, sociais, estéticos, afetivos e tecnológicos.

Dimensão cognitiva

A linguagem organiza o pensamento. Segundo Vygotsky (1934), aprendemos a pensar por meio da interação social. A comunicação é, portanto, um processo que não apenas expressa ideias, mas estruturalmente molda o modo como pensamos.

Dimensão social

A linguagem reflete a sociedade. Expressões, gírias e variações linguísticas revelam identidades culturais, regionais e sociais. Para Bakhtin (1981), “a língua é o lugar de encontro entre o mundo e o homem”, mostrando que a comunicação é também um instrumento de construção social e cultural.

Dimensão estética

A arte é uma linguagem simbólica. Pintura, música, teatro, literatura e dança são formas de comunicação que ultrapassam o racional e alcançam o sensível, permitindo que sentimentos e ideias sejam transmitidos de maneira singular.

Dimensão afetiva e emocional

A comunicação também é emoção. Tons de voz, gestos, expressões faciais e até silêncios carregam significados que vão além das palavras, revelando afetos, intenções e estados de espírito.

Dimensão tecnológica

Na contemporaneidade, surgem novas formas de linguagem: memes, emojis, gifs, vídeos curtos e conteúdos multimodais. Essas expressões ampliam os modos de comunicação, exigindo novas competências interpretativas e éticas.


Comunicação como Construção de Significados

A comunicação não é um processo linear. O mesmo código pode gerar sentidos diferentes, dependendo do contexto, da cultura e da percepção do receptor. A comunicação é, assim, uma negociação constante de significados, na qual emissor e receptor participam ativamente.


Conclusão

Estudar a linguagem e a comunicação é mergulhar na própria essência humana. Desde gestos ancestrais até redes digitais, a linguagem nos acompanha como extensão do pensamento, da emoção e da cultura. Conhecer suas dimensões — cognitivas, sociais, estéticas, afetivas e tecnológicas — permite compreender melhor a si mesmo, ao outro e ao mundo.

“As palavras têm o poder de destruir e de curar. Quando são verdadeiras e gentis, podem mudar o nosso mundo.”
Buda

A linguagem, portanto, é uma força viva: molda pensamentos, cria conexões, constrói culturas e transforma realidades. Entender suas múltiplas formas é um convite a refletir sobre quem somos e como nos relacionamos com o mundo.


Referências

  • BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

  • SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 2006.

  • VYGOTSKY, L. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

  • HEIDEGGER, M. Carta sobre o Humanismo. Lisboa: Guimarães, 1959.

  • MORIN, E. O método 5: A humanidade da humanidade. Lisboa: Europa-América, 2001.

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